PORRA! Que porra é essa?

Porra-louca! (Porra, que louco! Como se escreve isso depois da reforma ortográfica?).

Porra nenhuma! É possível?

Porra, que porra é essa?

Todo idoso foi um dia adulto não idoso (salvo Benjamim Button que nasceu velho e morreu bebê), que por sua vez foi adulto e que antes fora jovem, sobrevivido da adolescência onde teve tudo para ser, mas conseguiu superar, ou não teve escapatória incorporando para sempre o tal porra-louca. Todo adolescente foi outrora criança que havia sido antes um bebê. O bebê foi nascituro, que era feto, e que era óvulo que recebeu a visita permanente de um espermatozoide e que foi…

Porra, entendeu né!?!

O fato é que todos nós já fomos uma porra qualquer algum dia e se agora te chamam de porra nenhuma significa que você passou a ser nada. Nada mesmo, muito pior do que voltar a origem, quando alguma porra você era.

Em relação ao nominativo de porralouca (ainda continuo com a porra de uma dúvida de como escreve isso), imagino seja o indivíduo nascido da conjunção de um óvulo careta que vestido solenemente para o encontro nupcial, se vê penetrado por um espermatozoide que desdenhou todos os seus milhões de concorrentes, tendo saindo por último na corrida da fertilização, nadou de ré, fez performances pelo caminho e ainda chegou primeiro.

Que porra-louca a nossa origem, não!  Com milhões e milhões de espermatozoides à disposição vindo ao seu encontro, o óvulo tantas e tantas vezes maior se contenda com unzinho! E não é qualquer unzinho, simplesmente o que chegar primeiro!

Mas será que na porra de nossa vida, o mérito é simplesmente de quem chega primeiro? Resta saber como se faz para estar na dianteira e que nem sempre significa estar a frente do seu tempo.  No mundo real o primeiro a ser escolhido e a forma de seleção se dá numa disputa desigual, onde as condições de competição favorecem os previamente eleitos. Nesta falsa concorrência tem muito porra-nenhuma ganhando espaço e notoriedade sem o merecer. Não sem razão, depois, não fazem porra-alguma de importante para a sociedade, ao contrário, agem exclusivamente para atender a porra de seus interesses, sem conseguir enxergar nada mais ao seu redor.

Quanto ao porra-louca é ser idealista, vanguardista, é se atirar primeiro. Puro ato de porra-louquismo. Assumir posicionamentos diferentes do trivial e ter que enfrentar, por vezes, a incompreensão e rejeição, numa sociedade conservadora, cheia de preconceitos, cujos prenúncios se dão justamente com a negação de tudo isso. Os porras-loucas, para se assumirem como tais, devem estar preparados para o repúdio e por vezes têm que lidar inclusive com a sanha odiosa dos que não aceitam a pluralidade e não admitem as diferenças. Mas o verdadeiro porra-louca não se entrega e luta para superar o conservadorismo, as velhas práticas e rancores tradicionais, no desejo de alcançar conquistas e ganhos coletivos.

Afinal, o que seria o mundo atual e da própria sociedade sem aqueles que se colocam na condição de controversos e incompreendidos, os que morreram por um ideal e foram mártir de uma causa, os porras-loucas de seu tempo?

Sobre denivalfrancisco

Meu nome é Denival Francisco da Silva. Formado em direito pela PUC-GO e mestrado em direito pela UFPE. Juiz de direito e professor universitário. Poeta e cronista, às vezes. A angústia em conviver com tantas distorções sociais, indiferenças, injustiças, ofensas aos direitos fundamentais, desprezo ao semelhante, e tantas outras formas de indignidade, exige de todo aquele que se incomoda, um lugar de fala. E que bom será se esta fala puder ressoar e se abrir mundo afora. A internet propicia isso, e os blogs têm sido ferramentas extraordinárias para a verdadeira liberdade de expressão, onde cada um coloca em discussão seus temas prediletos. Não inovarei em nada. Com toda certeza outros o fazem melhor. E não ouso afirmar que minha fala, lançada neste espaço cibernético, vá percorrer fronteiras e atrair simpatizantes. Não tenho este poder e jamais esta pretensão. Quero mais a liberdade de expressão e a consciência bastante para enxergar, mesmo no obscurantismo, para não me aquietar diante de farsas. O título do blog – sedições – enseja de início a contraposição. Não significa, porém, que haja uma necessidade simples de divergir, de contrariar, de opor. Sedições, misturando suas letras, dá também decisões que aqui se propõe invertidas ao modo que se vê correntemente. O que pretendo é, não mais, desaguar as palavras que alvoroçam em mim, em burburinhos loucos para serem ouvidos, como quem vê, pensa, reflete e necessita replicar suas críticas e percepções. Espero que os visitantes compartilhem comigo críticas e discussões sobre política, sociedade, direitos humanos, justiça e um pouco de prosa e poemas. Sejam bem-vindos! Ver todos os artigos de denivalfrancisco

4 respostas para “PORRA! Que porra é essa?

  • Cecília Olliveira

    “Mas será que na porra de nossa vida, o mérito é simplesmente de quem chega primeiro?” Continuamos a ser essa porra de porra nenhuma? Ou Porra alguma? Excelente!

  • Tiago

    Não basta ao espermatozoide chegar primeiro. Ele precisa ter a sorte de encontrar o óvulo careta que ficou um mês aguardando sozinho para sair de casa e ficar no ponto, esperando o maratonista. O porra nenhuma é coisa nenhuma mesmo, pois sozinho não é nada. Já o porra-louca só sobrevive porque tem ao lado algum óvulo careta e quentinho para ampará-lo…,rs!

  • Raul

    Parabéns, pelo texto, Denival.

    A mediocridade domina o mundo. Realmente existe a sanha odiosa dos que não aceitam a diferença, principalmente quando esta ameaça privilégios, questiona métodos de profissões ou de esquemas sociais milenares. Fazer escolhas arrojadas desperta a ira dos covardes.

    Pelo menos um magistrado para desabafar de vez em quando e escancarar as injustiças que gravitam ao nosso redor.

  • Oswaldo César

    Bela arquitetura! Parabéns!
    Estar a frente de seu tempo é expressão oriunda da minoria que o faz, pois, somos “loucos” por sermos poucos, nada mais. A normalidade medíocre se anestesia na falsa sensação de paz que a multidão (maioria) traz… A verdade é única, apenas evolui, já era assim há tempos e continua apenas a ser “lapidada” aos olhos do entendimento de nós (porras) seres humanos.